quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Enderson inicia mata-mata sem temer jogo feio e com grandes inspirações


Técnico do Santos foi à Europa enquanto estava desempregado e viu os times de Mourinho e Guardiola em ação. Agora, lida com uma encruzilhada: jogo bonito ou futebol de resultado?

Causou estranhamento o fato do técnico Enderson Moreira ter afastado o atacante Rildo do grupo do Santos só 13 dias depois de chegar para substituir o conciliador Oswaldo de Oliveira. O conflito entre o atleta e o treinador recém-contratado já está resolvido, mas evidenciou, logo de cara, um lado que Enderson faz questão de transparecer: é necessário ter o elenco nas mãos.

– O mais importante do futebol não é o lado técnico, de execução, e sim de entender como o futebol acontece, como comandar atletas e gerenciar pessoas. Esse é o desafio maior – disse o treinador, fascinado também por psicologia no esporte, durante a meia hora em que atendeu a reportagem do LANCE!Net no CT Rei Pelé.

Enderson é um homem de decisões firmes e discurso no mesmo tom. Jogou futebol só até os 18 anos de idade, quando viu que o sonho não daria em nada, e desde então passou a estudar o esporte em seus aspectos táticos, físicos, técnicos e mentais. Nesta quarta-feira, no Santos, inicia um novo desafio no Maracanã, às 19h30. Diante do Botafogo, o técnico de 43 anos encara seu primeiro mata-mata pelo Peixe nas quartas de final da Copa do Brasil, e deixa claro que o importante no momento é o resultado, não o jogo técnico que a torcida exige.

– Eu sempre quero ganhar jogando bem, mas em algumas situações isso não vai acontecer. O que busco é apresentar um futebol de marcação, de intensidade, mas com qualidade técnica. Mas nesse momento, acima de tudo, precisamos de resultado, senão vamos ficar aqui sem conquistar nada, não adianta falar – admite o treinador, que ficou um mês desempregado entre a demissão do Grêmio e a chegada ao Santos, no dia 3 de setembro.

Nesse período, Enderson foi à Europa e acompanhou jogos de Chelsea e Bayern de Munique, times comandados por técnicos que o inspiram na carreira: José Mourinho e Pep Guardiola. Ambos igualmente vencedores, mas com características diferentes: o português não se preocupa em abrir mão do jogo bonito em nome de uma classificação ou uma conquista. Já o espanhol é adepto fervoroso da qualidade técnica e da troca de passes. Qual Enderson será o do Santos? Nem ele ainda sabe responder:

– Os resultados infelizmente são mais importantes que as atuações, mas tenho que introduzir situações que só terão efeito com a sequência. Está aí um desafio. Mais um, né?

BATE-BOLA com ENDERSON MOREIRA
Técnico do Santos, ao LANCE!Net

Guardiola foi atleta e Mourinho é estudioso, como você. Acha que treinadores que não jogaram são uma tendência do mercado hoje?
Existe uma ideia hoje de futebol que eu não entendo... Joguei menos do que muita gente, mas vivi toda minha vida toda dentro de quadra de futsal ou do campo, e tudo que acontece em alto nível acontece de maneira sem tanta aparição, sem mídia, em outros momentos e lugares. Eu sempre fui um treinador muito tático, sou formado em educação física, tenho bom conhecimento de psicologia do esporte, sou uma pessoa que leio, gosto de literatura sobre futebol, assistir basquete e futebol americano. Você acaba executando tudo fora do futebol profissional também.

Você é melhor do ponto de vista tático ou gerenciando grupos?
Quem tem que responder é quem foi comandado por mim. No próprio Grêmio, que teve interrupção antecipada, fizemos a melhor campanha de brasileiros na Libertadores, eliminado pelos campeões apenas nos pênaltis. Mas evidente que precisa de ter resultado... Se ele não veio, nada funciona.

Você tem mudado muito o time. Ainda não encontrou o ideal?
Pode ser que o melhor seja o time da última partida ou da próxima, mas com o número de mudanças que fazemos por cartões e lesões, a gente não consegue criar uma consistência daquilo que eu acho que pode funcionar e dos nossos conceitos.

Quais são esses conceitos?
Eu gosto de jogo com muita dinâmica, de time que toca bem a bola, em alta velocidade. Alguns quesitos de marcação, mais no campo do adversário, também são importantes. Enfim, coisas que não conseguimos implementar em pouco tempo. Tem uma regrinha que diz que o atleta retém 10% do que você fala, 20% do que você mostra e 80 a 90% se executa. Por mais que tenha outros caminhos, a execução é onde ele consegue captar mais o conceito.

O Santos tem uma cobrança por jogo bonito. Já sente isso?
Sim, e concordo. O Santos tem sim qualidade para buscar vitórias e mostrar um futebol de alto nível. Por que o Cruzeiro tem essa condição e nós não? Nós temos também.

Você chegou com o elenco montado, sem poder fazer muita coisa. O que mudaria se pudesse?
Eu não gosto de falar daquilo que não foi possível. Estamos agora em um processo de tirar o máximo dos jogadores, sem sonhar com nada. Temos jogadores de ótimo nível, mas pensando principalmente no time, evidente que não de forma individual. Tem que ter uma energia a mais, algo e mais, e isso que busco até o fim.

Lancenet

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